Foram 4km e 420 metros de subida.
Eu já cheguei querendo andar no pique, mas aos poucos fui me
adaptando e encontrando o ritmo alinhado ao de Mel, minha irmã e Ray, amiga nossa.
Uma guiando a outra em momentos diferentes da trilha. Pausa pra um grupo grande
passar. Pausa pra um ruído passar – uma caixa de som com "tuntstunts" competia com o som ambiente (nada contra, apenas tudo). Pausa pra fotografar. Registros.
Calcular onde pisa, ter cuidado com as folhas, com a lama. “Cuidado,
você pode escorregar e se machucar”, um grupo nos avisou. Uma pessoa que torceu
o pé no último trecho do caminho foi resgatada pelos Bombeiros por helicóptero
- às vezes a coisa pode ficar realmente séria.
Eu já escorreguei trocentas vezes, já fui picada por uma
aranha, já pulei uma cobra que surgiu no meio da trilha, já me estabaquei entre
galhos, já fui picada por mosquito e voltei empolada precisando de
antialérgico, já me ralei escalando pedra, já corri de meia dúzia de vespas. Ih...
Ainda assim, eu não perco o prazer de fazer uma boa trilha. Às
vezes bate um puta cagaço de subir um trecho íngreme e exposto, óbvio. Eu
calculo e assumo o risco. Gosto de tentar sozinha, mas, também, se me oferecem
ajuda, eu aceito. Ofereço quando posso - apoio moral, principalmente.
As coisas que acontecem vão ensinando cada vez um pouco mais,
sobre o que está em jogo e como fazer o manejo disso, sobre estar ali. E pra
mim é um realmente um prazer estar ali, no meio do mato todo, ouvindo os animais,
os barulhos do caminho, sentindo o sol ou a chuva, sentindo o vento, percebendo
meu corpo, meus batimentos, meus passos, minha respiração, meu suor.
Escuta. Visão. Ou “escuta, visão!”. É visão se escutar.
Um dia antes da trilha, fiz um treino funcional (não tão
funcional assim, rs) mais pesado, ignorei meus limites e ultrapassei a linha do
suportável pelo meu corpo. O resultado? Queda de pressão, quase desmaiei. Fiquei
bem depois. Mas entendi que é melhor não chegar a tanto, saber se ouvir é
importante.
As trilhas parecem me ajudar a me escutar de maneira gradual
e gentil, um passo por vez, a me desafiar. No caminho, os ajustes possíveis, atenção
à intuição, ao entorno, aos limites, aos sinais.
Essa trilha, da Pedra do Elefante ou Alto Mourão, eu queria
fazer há um tempo. Na semana passada, inclusive, falei dela e hoje eu tenho
essa foto bonita no pico mais alto da cidade que me pariu.
Foi bom.
Andei, subi, escalaminhei com vontade, corri. Vi
borboleta, escutei passarinho, senti o cheiro verde da mata e de terra molhada,
abracei uma árvore e fiquei siderada pela vista do cume. As mãos ficaram
marcadas pelas pedras. As pernas estão sentindo cada degrau agora. O corpo tá
cansado, mas tô feliz.
Ela foi um mix de fazer acontecer algo que eu queria, assumir
os riscos, ter atenção aos próprios limites, receber ajuda ou oferecer quando necessário,
apreciar o trajeto, admirar a chegada e depois descer tudo de volta.