"Queria apenas tentar viver aquilo que brotava espontaneamente de mim."

sexta-feira, 8 de julho de 2022

Aquele sentimento que não sei dizer

(...) Parece aquele inebriamento inicial do vinho, mas bem inicial mesmo, de quando a gente só começou a primeira taça. Um quentinho no coração. Uma incerteza que dá gosto de sentir. Mas ainda incerteza. Então, um pouco de angústia também. Mas ainda um inebriamento. Acendo um incenso. Visto só a parte de cima da camisola. É mais confortável assim. É aroma de rosa branca. Amor, harmonia, paz, sedução. Algo assim, diz na embalagem.

Já passou de meia noite, eu tenho hora pra acordar, mas assumo, pago o preço. Me enfiei embaixo do cobertor e tudo o que quero é esse encontro. As teclas sempre me entendem. 

Essa música compõe perfeitamente o ambiente à meia luz no quarto. Agora sim. 

Niterói, 8 de julho de 2022. 

Oi, teclas.

Senti que precisava vir.

quinta-feira, 16 de junho de 2022

Amor e tempo

Eu quero amor e tempo

Tempo de amar

Tempo de amor

Tempo pro amor

Tempo pra amar calmo, longe no tempo

Quero amar com tempo

fora do tempo

Escapar de tanto amar

Quero tempo e quero amor

Quero e angustio querer

Sem dar tempo do amor

ser do tempo e do amor

Dando tempo de ser e de amar

Dando tempo pro amor ser

E do tempo se fazer

Quero amando ter mais tempo

De viver o meu tempo

De amar no tempo

E além 

segunda-feira, 21 de março de 2022

Ei, outono

Eu dancei na beira do mar, diante da ventania
Corri na areia, cantei bem alto as músicas que ouvia
Apaixonada. Entregue.
Outono chegou
É brisa, gente
É brisa
O vento bagunçou os cabelos, me remexeu
Fez resistência na caminhada no sentido contrário
Como quem me pede pra não ir embora 
Quando a favor, me empurrava
Ajudava
O saltitar, rodopiar
Parecia me dar as mãos, dançava comigo
Uma brincadeira, um momento
Agora estou aqui
Sola. Viva.
Chorei depois.
Um choro de peito aberto
De saudade, algo que se foi
Não sei exatamente o que
Angústia
Passou
A vida
E suas minúcias

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Colo

às vezes era só um colo
permissão
deixar cair 
a máscara, a lágrima, as fantasias
ideais
tão duros
chicoteiam o coração
como abrir mão?
prisão?
um pouco de conforto
um pouco de cuidado
um pouco de afeto
um pouco
só um punhado
de amor
era só isso
tudo

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Quem engana quem?

Será que foi o outro que me enganou ou eu que me enganei com a minha vontade de acreditar? A fantasia é sempre mais bonita que a realidade e o desejo enorme que ela se torne real é que me faz dar força a todas as ilusões pra tentar trazê-la ao concreto. Pra poder dizer "finalmente!". Mas o tombo vem. E no fim, a sensação “eu já sabia”. A minha intuição já tinha me dito há muito tempo, eu já tinha muitos sinais, mas preferi ignorar todos em nome da alegria e do prazer enorme de finalmente realizar a fantasia tão linda, sonhada e brilhosa. Talvez amadurecer seja ignorar menos os sinais. Talvez seja não ceder tanto a esse desejo infantil teimoso de viver de fantasia, de trazê-la para o real, de como eu quero que as coisas sejam como quero e espero. Vai ter decepção, sabe? É sofrer com elas e seguir a vida porque faz parte. Mas sofrer um pouco menos, talvez. Sempre um talvez. Nunca um sempre. Nunca um nunca. Talvez sofrer diferente, talvez não sofrer. E então?

domingo, 31 de outubro de 2021

com amor, eu

Eu sou amor de verdade.

Amor profundo. Desses que fica.

Amor com todas as letras.

No que eu nem sei.

Eu amo com o coração dado

quando amo.

Quero dar mais a mim



sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Beijo antropofágico

É aquele beijo
Que me engole
E quer mais
E me atrai feito ímã 
E que eu beijo
E me abro de volta
E em voltas
Nossas bocas e línguas
Envoltas 
Fazem circo
Pegar fogo
Não desgruda
Morde com ternura 
Suga
Meu ar no seu já é um só 
O resto não importa 
Enquanto não saciar 
Mais um gole do desejo
Desse beijo
Que me engole
E me quer de volta
Eu quero
Eu quero voraz
E calmaria
Tudo começou com o quase beijo 
No canto da boca 
Na hora do oi
Não quis dar mais tchau

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Oração sagrada

Se a dor é inevitável,

E a vida, impermanência,

E eu, um ser sensível, relacional e amoroso - um tanto carente e fantasiante

Que não me falte o choro na hora que eu precisar

Que eu saiba suportar os lutos e desilusões

Que eu não evite o amor só para evitar o sofrimento

Que eu encare o que me incomodar e resolva mais rápido

Que eu aprenda a amar melhor e a sofrer menos

Mas sem pressa (de saber)

A pressa cansa e me faz querer desistir

Que eu tenha paciência com o meu tempo e o tempo das coisas

Que eu confie na vida e saiba compor com ela

E, por favor, por tudo o que é sagrado, que eu apure os meus ouvidos e sentidos para ouvir e atender, sempre que possível, o meu coração

E assim, fazer escolhas mais honestas em todas as áreas da minha vida.

domingo, 11 de julho de 2021

A trilha do Alto Mourão ou um relato de um coração que trilha

Foram 4km e 420 metros de subida.

Eu já cheguei querendo andar no pique, mas aos poucos fui me adaptando e encontrando o ritmo alinhado ao de Mel, minha irmã e Ray, amiga nossa. Uma guiando a outra em momentos diferentes da trilha. Pausa pra um grupo grande passar. Pausa pra um ruído passar – uma caixa de som com "tuntstunts" competia com o som ambiente (nada contra, apenas tudo). Pausa pra fotografar. Registros.

Calcular onde pisa, ter cuidado com as folhas, com a lama. “Cuidado, você pode escorregar e se machucar”, um grupo nos avisou. Uma pessoa que torceu o pé no último trecho do caminho foi resgatada pelos Bombeiros por helicóptero - às vezes a coisa pode ficar realmente séria.

Eu já escorreguei trocentas vezes, já fui picada por uma aranha, já pulei uma cobra que surgiu no meio da trilha, já me estabaquei entre galhos, já fui picada por mosquito e voltei empolada precisando de antialérgico, já me ralei escalando pedra, já corri de meia dúzia de vespas. Ih...

Ainda assim, eu não perco o prazer de fazer uma boa trilha. Às vezes bate um puta cagaço de subir um trecho íngreme e exposto, óbvio. Eu calculo e assumo o risco. Gosto de tentar sozinha, mas, também, se me oferecem ajuda, eu aceito. Ofereço quando posso - apoio moral, principalmente.

As coisas que acontecem vão ensinando cada vez um pouco mais, sobre o que está em jogo e como fazer o manejo disso, sobre estar ali. E pra mim é um realmente um prazer estar ali, no meio do mato todo, ouvindo os animais, os barulhos do caminho, sentindo o sol ou a chuva, sentindo o vento, percebendo meu corpo, meus batimentos, meus passos, minha respiração, meu suor.

Escuta. Visão. Ou “escuta, visão!”. É visão se escutar.

Um dia antes da trilha, fiz um treino funcional (não tão funcional assim, rs) mais pesado, ignorei meus limites e ultrapassei a linha do suportável pelo meu corpo. O resultado? Queda de pressão, quase desmaiei. Fiquei bem depois. Mas entendi que é melhor não chegar a tanto, saber se ouvir é importante.

As trilhas parecem me ajudar a me escutar de maneira gradual e gentil, um passo por vez, a me desafiar. No caminho, os ajustes possíveis, atenção à intuição, ao entorno, aos limites, aos sinais.

Essa trilha, da Pedra do Elefante ou Alto Mourão, eu queria fazer há um tempo. Na semana passada, inclusive, falei dela e hoje eu tenho essa foto bonita no pico mais alto da cidade que me pariu.

Foi bom.

Andei, subi, escalaminhei com vontade, corri. Vi borboleta, escutei passarinho, senti o cheiro verde da mata e de terra molhada, abracei uma árvore e fiquei siderada pela vista do cume. As mãos ficaram marcadas pelas pedras. As pernas estão sentindo cada degrau agora. O corpo tá cansado, mas tô feliz.

Ela foi um mix de fazer acontecer algo que eu queria, assumir os riscos, ter atenção aos próprios limites, receber ajuda ou oferecer quando necessário, apreciar o trajeto, admirar a chegada e depois descer tudo de volta.

terça-feira, 25 de maio de 2021

Declarações de uma analisante

Fazer análise é bom
A gente vai se tornando mais a gente
Se assumindo mais
A gente sai do armário
Se liberta um pouco
De si, do outro
Do Outro
Sem abdicar de trocas
A gente negocia mais
Por isso que a gente ganha mais
Qualquer coisa: dinheiro, amor, trabalho, amigos, noites de sono, prazeres diversos
A gente chora a fantasia perdida
A fantasia achada, antes
Ah, é duro
O real invade e não pede licença
Mora no peito com uma faca afiada
O espelho encara sério
Perguntas, muitas perguntas
Resposta, quase nenhuma
E melhor nem perder tempo – elas mudam, elas riem da nossa cara com contradição e mutação constantes
Eu amo
Eu odeio
Eu queria todo dia
Mas não sei se aguentaria
É foda
É lindo para caralho
E o caralho, que eu nem tenho, e me falta
A falta, feminina que sou, me preenche
Como nada mais consegue
E que bonito
O desejo
É sobre isso
Eu acho
Vou sonhando para ouvir o inconsciente
Meus amontoados sem lei
Sem lei? Não sei
Vou desenhando
Fazendo arte
Fazendo análise
Fazendo a vida
Com mais de mim

sexta-feira, 21 de maio de 2021

um gosto de que (?)

Eu comporto as duas
As várias, muitas
As coisas nuas
Ácidas ou duras
Difíceis demais
Para dizer em voz alta
Doce e linda
Azeda e insuportável
Se porta o que me cabe
Bom
Se traz o não-lugar
Aguente
Eu nunca disse que seria fácil
Sustente
E se sobreviver, fale
Vou adorar saber











sábado, 15 de maio de 2021

Pérola

Um processo lento e raro

Um recurso caro

Um grão

Um abrigo

A concha se fez esconderijo

Tenho estado como “pérola”:

Me (re)fazendo com calma.

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Carta-semente

Oi,

Eu sou Camila. Uma jovem moça de 26 anos e 10 meses. Jornalista de formação, curiosa por Psicanálise e coisas do coração.

Gosto de fazer poesia com a vida, o que é quase um sexo, mas acho que mais excitante - jamais subestimando o sexo, por favor! (Inclusive gosto muito.) É que poesia é um caso a parte, realmente.

Enfim.

Meu olhar para o mundo tem sido mais vivo nos últimos dias. Não sei se pelo fim do último namoro, não sei se por vivenciar tanta morte e luto e tristeza à minha volta ou por ter saído de um poço bem fundo e depressivo e agora me sentir mais forte, mais minha, mais viva, mais aqui e agora e de coração aberto. Sobretudo, acho que isso se deve ao fato de ter percebido que não sou imortal. A vida acaba. Eu vou morrer, como todo ser humano morre. Paulo Gustavo morreu, isso me doeu de um jeito tão intenso, tão triste.

Coragem.

Essa palavrinha mágica é que tenho tentado cultivar nas minhas vísceras. 

Para viver preciso tanto dela.

Percebi que a vida é o maior presente. Tenho acordado todos os dias e desejado "bom dia, mundo!". Tão bom estar viva para dar bom dia ao passarinho, à árvore, ao ventinho e à brisa das manhãs de outono. Como eu amo o outono! No fim da tarde me inspira com as cores. No fim da noite me inspira o aconchego romântico do meu coração apaixonado e poético.

Além disso, tem encontros que acontecem que tiram a gente de órbita por alguns minutos e fazem borbulhar umas cosquinhas gostosas na barriga, invadem o peito, e a alma dá sinais de alegria. É como uma dança linda, uma vida de sentido acontecendo diante dos olhos, o brilho e o calor da chama que nos move adiante ficam grandes e querem se espalhar por entre os poros e para sempre.

É um infinito num segundo.

A intensidade de viver com presença. A calma e a cautela de existir sendo, deixando fluir, seguindo o coração, confiante na vida.

Uma carta de amor e tesão pela vida.

Deve ser isso esse escrito.

Deixo aqui. Quem ler, que receba a sensação alegre e de amor invadindo o coração e criando raízes nutritivas para uma existência sensacional, única, autêntica!

Que os sentidos se abram!

Um beijo,

Camila.



sábado, 8 de maio de 2021

aventuras no astral

Eu vou jogar pó de pirlimpimpim

Só pra você vir voando aqui

Eu sopro uma brisa pra te buscar

Vem?

A gente se dá carinho

Se conseguimos, ao nosso jeitinho

Sem pensar muito

Vem...

Passeia comigo

No astral, no profundo

No calor no cardíaco

Onde eu e você sentimos

Vem,

Fecha os olhos

Não tem perigo

Nem garantias

A brisa é leve

E o vento, amigo

Vem:

É permitido visitar

Pirilampeie no meu mundo

Pra depois de volta voar

terça-feira, 4 de maio de 2021

coração, eu te amo

 

O mundo

pode estar difícil

bem difícil mesmo

mas lembra

que o amor existe

e resiste


observa

no fundo da alma

bem dentro do peito

num lugar secreto

o amor habita

é lá onde você

pode se buscar

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

exaustões existenciais

ando cansada
cansada
cansada

quero mais nada
nada

de saco cheio
das coisas
de uma gente
do mundo
de mim

de rodar e rodar
e nunca chegar
nunca parar

de não encontrar

parece que sempre falta
o crucial

o meu coração 
tem um rombo
que eu insisto tampar

nada melhora
nada adianta
nem se chora
as vezes

eu to cansada
quero ir pra casa
quero ninar
quero colo
quero esquecer

a minha pirraça
me deixa cansada
quero ir pra casa
quero esquecer

a minha lágrima
me consola
quero deixar ser

to cansada
mas não vou embora
fico mesmo emburrada
com raiva
inveja
ódios
cinzas
verdades 
duras demais

to cansada
mas não abandono
nem ignoro
quero saber
quero chorar
quero viver
quero furar 
o amargo e o doce
quero jorrar 
essa merda 
até a última gota 
e entender 
de uma vez por todas 
qual é 
a do meu desejo

o que pulsa

as urgências do meu coração
elas fazem barulho
estão me contando histórias antigas
dos tempos de menina
elas borbulham
saem pelos poros
na boca 
e nos olhos

a lágrima que rega o rosto
mata um pouco a sede
enxuga a angústia
transborda o copo

se guardo, inflamo
se derramo, choro

o peito brando
bocejo enfim

- depois da chuva, o arco-íris

um pedido, tempo

tempo,
peço ajuda para acompanhá-lo
já passei correndo muito
um descompasso
ora preciso esperar
ora passar
ritmar 

você me alcança 
ou eu te alcanço?
caminho do meio
segura minha mão?
assim não me perco tanto

as vezes é desencontro
numa pressa de ver
atalhos equivocados
alongam a fio 
o que não precisa ser

ah, tempo
que difícil você
sou eu, eu sei
de insistir tanto
nessa cisma turra
de querer 
no meu tempo
o que vem com você

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

balança

Não,  não dê tudo

Saiba guardar seu quinhão

Calcule

E cuide

Pra que não sobre e nem falte demais

É duro as vezes

E nem é simples medir

Mas vale 

Muito

O valor que você dá

Você pode estipular

Vá percorrendo caminhos seus

Sem prescrições

Sem previsões

É seu

E é só dentro que se tem resposta 

Pra isso que você quer

Pra o que lhe cabe

Corre, mulher

Vai fazer 

É da tua conta 

Esse fazimento de si

Deixa de se iludir

Você já tem perguntas demais

Vazios demais

Vambora.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

TOQUE (poesia na pandemia)


o toque áspero de sua mão arrepiou minha pele
sentimos juntos
os dedos percorriam meu antebraço e
alquimia
não soube o que sentir
o coração desponta de lugar
o olhar que encontra
vê tão perto que não crê
“é você”
e eu
aqui
cada poro de mim grita por aquele sentido
o tato

tocar você
é melhor que qualquer instrumento
é como tinta no papel
óleo sobre tela
tatuagem da mais bela
não mais me escreva
escreva em mim